Ferragus ou o Chefe dos Devoradores (fevereiro de 1833) - primeira história da História dos Treze
Volume VIII: Estudos de Costumes - Cenas da Vida Parisiense (lido entre 12 de fevereiro de 2013 e setembro de 2015)
Personagens: Augusto de Malincourt, vidama de Pamiers, baronesa de Malincourt, Clemência Desmarets, Júlio Desmarets, Justino, Ida Gruget, Viúva Gruget, Ferragus (Henrique), Jacquet.
A história se passa na década de 1820 do século XIX.
Ferragus é o primeiro de três episódios de História dos Treze. O que essas histórias têm em comum são "os treze", ou seja, treze indivíduos que participavam de uma espécie de confraria, estando associados para ajudar uns aos outros. No prefácio, extremamente enfadonho, Balzac menciona que esses treze homens tinham posições diferentes na sociedade, mas se encontravam unidos por uma espécie de juramento que obrigava os outros doze a auxiliar, de qualquer forma, o irmão que se encontrava com algum problema.
A época que precedeu as revoluções liberais de 1830 e 1848 foi o período áureo das sociedades secretas. Há, na Comédia Humana, referência a diversos grupos desse tipo, como os usurários em Gobseck ou os Cavalheiros da Malandragem em Um Conchego de Solteirão.
Pois Ferragus é um dos membros dessa sociedade dos treze, os Devoradores. Segundo Balzac, no prefácio, Devoradores era o nome de uma das tribos de "Companheiros" oriundas da grande associação mística formada entre os obreiros da cristandade para reconstruir o Templo de Jerusalém.
Sabemos pouco sobre ele. É idoso, já esteve nas galés e tem um filha, por quem está disposto a tudo. Quando a história começa, Ferragus está prestes a obter uma falsa identidade, a do senhor de Funcal, conde português, para poder aparecer na sociedade com a moça. Ela, Clemência Desmarets, era casada com Júlio, corretor de câmbio que enriquecera, mas que desconhecia a origem de sua esposa.
Todavia, o barão Augusto de Malincourt, jovem aristocrata, apaixona-se por Clemência e passa a segui-la. Uma tarde a surpreende entrando numa casa suspeita e passa a investigar. Descobre então sua relações com Ferragus, que julga serem adulterinas. A partir desse momento, Augusto sofre duas tentativas de assassinato. Acaba alertando Júlio, que passa a suspeitar da esposa.
No final, quando tudo se esclarece - Júlio descobre que Ferragus é pai de Clemência - é tarde demais. Clemência adoece e morre. E Augusto morre envenenado. Júlio, desesperado, abandona os negócios e passa a viver recluso, assim como Ferragus.
É espantoso saber, por Paulo Rónai, que essa história fez um enorme sucesso. É tediosa e cheia artifícios que a fazem irrealista como a carta que Ferragus derruba no chão e é encontrada por Augusto, os atentados contra o barão, o casamento de Júlio com Clemência, de uma felicidade que não se encontra nem nos contos de fada (isso quando conhecemos os juízos de Balzac sobre o casamento burguês). Segundo Rónai, as fontes de Balzac aqui são o romance negro inglês e o romance popular francês, que ele utilizou como modelos na sua estreia.
A alusão ao romantismo é explícita: Balzac dedica as três novelas da História dos Treze a Hector Berlioz, Franz Liszt e Eugène Delacroix, três expoentes do romantismo.
Mas, apesar de não ser o melhor de Balzac, ele está lá. Veja-se essa passagem em que ele compara Paris com um ser vivo:
"Monstro completo, aliás. Suas águas-furtadas são-lhe a cabeça cheia de ciência e gênio; os primeiros andares, estômagos felizes; suas lojas, verdadeiros pés; deles saem todos os transeuntes e todos os ocupados. E que vida ativa tem o monstro! Apenas o último rodar das últimas carruagens de baile lhe cessa o coração, já os braços se agitam nas barreiras e ele se espreguiça lentamente. Todas as portas bocejam, giram sobre os gonzos, como as membranas de uma imensa lagosta, invisivelmente manobradas por trinta mil homens ou mulheres, cada um dos quais vive num espaço de seis pés quadrados, onde tem uma cozinha, um ateliê, um leito, filhos e um jardim, onde não vê claro e onde tudo deve ver."
Na foto, vemos a nova edição da Comédia Humana que está sendo publicada desde o final de 2012 pela Biblioteca Azul, um divisão da editora Globo. Uma inciativa louvável já que a obra se encontrava esgotada dede o final da década de 1980.
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