sábado, 31 de dezembro de 2011

A musa do departamento

A musa do departamento (junho 1843-agosto 1844) segunda história de "Os parisienses da província".

Personagens: Milaud de La Baudraye; Diná Piédefer; Senhora Piédefer; senhor de Clagny (procurador do Rei); senhor Gravier; Visconde de Chargeboeuf (subprefeito); padre Duret; baronesa de Fontaine; Estevão Lousteau; Horácio Bianchon; Visconde de Chargeboeuf; senhor Cardot; Felícia Cardot; Senhora Cardot; Bixiou.

Nessa história acompanhamos a vida de Diná Piédefer, uma jovem bela e dotada de inteligência singular, mas desprovida de um dote atraente. Seu pai faleceu em 1819, deixando a mãe e Diná com 12 anos. O padre Duret ajudava a mãe e obter um noivo para filha, quando surgiu o bem mais velho e nada instigante senhor de La Baudraye, nobre recente, mas muito ambicioso da cidade de Sancerre. Casaram-se em 1824, Diná com 17 anos e La Baudraye com 44.
Diná logo organizou um salão, onde mostrava seus dotes culturais. Em torno dela, reuniu-se um círculo de admiradores: o senhor de Clagny, o senhor Gavier, o Visconde de Chargeboeuf e o jovem Visconde de Chargeboeuf.
Com o tempo, porém essa musa do departamento começou a se aborrecer com a mediocridade da vida provinciana. Teve um choque quando recebeu a visita de Ana, baronesa de Fontaine, colega da época do colégio. Viu a diferença entre ela, uma mulher provinciana, e a elegância da parisiense. Sob um pseudônimo, começou a escrever versos. Um poema, Paquita, a sevilhana, fez muito sucesso. Com o tempo, sua identidade foi descoberta.
Em 1836, Diná recebeu em seu castelo duas celebridades conterrâneas: o doutor Horácio Bianchon e o escritor e jornalista Estevão Lousteau. Depois de alguns dias, Diná e Estevão tornaram-se amantes. O cínico Lousteau, que havia armado a história com Bianchon, passou uma temporada em Sancerre e, após, retornou a Paris. Lá retomou a sua vida boêmia e suas atrizes. Em dificuldades financeiras, pensou em casar. Enquanto isso, Diná lhe escrevia cartas apaixonadas que ele sequer lia. Recebeu uma oferta para desposar a senhorita Felícia Cardot, que havia dado um mau passo e o pai, o tabelião Cardot, fez uma bela proposta para que Estevão aceitasse a moça. Nesse momento, Diná chegou à casa de Estevão em Paris e declarou que estava grávida. Havia deixado de La Baudraye e queria viver com o escritor, apesar das terríveis consequências. Estevão, num primeiro momento ficou apavorado. Após, pensando na idade avançada do marido de Diná e na bela herança, resolveu assumi-la. Viveram por seis anos e tiveram dois filhos.
Em 1842, de La Baudraye, muito mais rico, conde e par de França procurou a esposa e propôs que ela voltasse para Sancerre. Aceitando ou não sua oferta, ele levaria os “seus filhos” quando atingissem a idade de seis anos. Diná aceitou e deixou Estevão.
No final, em 1843, Diná esperava mais um filho.
Narrativa tipicamente balzaquiana, com abertura histórica - antecedentes familiares de de La Baudraye e Diná e muitas idas e vindas. Um escritor menos hábil se perderia facilmente. Não Balzac. Vamos do salão provinciano de Diná aos versos de Paquita, a sevilhana. Vamos do sarau de Diná com os “parisienses” à vida boêmia de Estevão de volta à capital. Vamos do crescimento da paixão de Diná por Lousteau ao seu lento, mas certo, declínio.
O ponto alto do romance é justamente o desvanecer da paixão. Balzac fez (é está expresso no texto) uma paródia do romance Adolfe de Benjamin Constant (por mim aqui resenhado).
Balzac aqui mostra aquela imparcialidade que o caracteriza (embora, por vezes, ele a abandone). A vida de Diná com de La Baudraye não a faz feliz, mas, com exceção de alguns momentos, tampouco a vida com Estevão. O retorno de Diná para Sancerre resolveu o problema social tornando-a, novamente, uma “mulher honesta”. Mas isso irá assegurar a felicidade? Ao final, temos a felicidade pragmática. Diná estava esperando mais um filho, mas não do marido. Seria de Estevão? Do fiel senhor de Clagny? Ou de outro?

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