sexta-feira, 8 de julho de 2022

O deputado de Arcis

O deputado de Arcis (1847)

Volume XII: Estudo de Costumes: Cenas da Vida Política, Cenas da Vida Militar

Personagens: sra. Marion, coronel Giguet, Simão Guiget, Grévin (tabelião), Philéas Beauvisage (genro de Grévin), Severina Beauvisage (née Grévin), Varlet filho (médico), Cecília Beauvisage, Francisco Keller (genro do Conde de Gondreville, Malin), Carlos Keller (filho de Francisco), Marechala de Carigliano (filha de Malin), Aquiles Pigoult (tabelião, sucessor de Grévin), Poupard (hospedeiro), João Violette, Antonino Goulard (subprefeito), Olivério Vinet (procurador substituto), Frederico Marest (procurador do Rei), sr. Martener (juiz), sr. Mollot (escrivão), sra. Mollot, srta. Ernestina Mollot, Juliano, Gontardo, Anniette, Paraíso, Marquesa d´Espard, Cavaleiro d`Espard, De Rastignac, Condessa de Rastignac (filha de Delfina de Nuncingen), Máximo de Trailles. 

A história se passa em 1839

O deputado de Arcis é um livro inacabado. Tem somente a primeira parte, A Eleição. Mas, ao contrário de Os pequenos burgueses, lamentamos muito não ter a continuação da história. É o mesmo ambiente e personagens de Um caso tenebroso, 33 anos depois do caso judicial dos Cinq-Cygne. Paulo Rónai nos diz na introdução que que O deputado de Arcis alarga a complexa perspectiva de Um caso tenebroso e "aprofunda em nós a sensação do histórico". 

Philléas Beauvisage

Na parte que conhecemos o protagonista é Simão Giguet, sobrinho da sra. Marion, viúva de Marion, recebedor geral, irmão do Marion que foi testa de ferro de Malin no passado. Simão decide apresentar-se como candidato de oposição nas eleições à Câmara nacional. O posto era, desde 1816, de Francisco Keller, genro do Conde de Gondreville, nosso conhecido Malin. Keller, nomeado par de França, desejava transmitir ao filho Carlos, sua sucessão eleitoral. Mas "eleger o jovem comandante Keller, em 1839, depois de ter eleito o pai durante vinte anos, revelava uma verdadeira servidão eleitoral, contra a qual se revoltava o orgulho de vários burgueses enriquecidos, que julgavam valer tanto como um sr. Malin, Conde de Gondreville, e como os banqueiros Keller irmãos, e os Cinq-Cygne, e até mesmo o rei dos franceses!" (BALZAC, 1991, p. 230). Esse foi o contexto da candidatura de Simão Giguet. 

Há inclusive a insinuação de que Gondreville, aqui com 80 anos, proporia um "filho da terra" como candidato, que cederia seu lugar à Carlos Keller. Há a insinuação de que esse candidato laranja poderia ser Philéas Beauvisage, genro do tabelião Grévin, e filho do granjeiro de Bellache, de Um caso tenebroso. Simão desejava também a mão de Cecília Beauvisage, filha de Philéas (ou filha de um  Visconde de Chargeboeuf que era subprefeito em Arcis na época do seu nascimento). Herdeira rica, faria o sonho da mãe, Severina, de morar em Paris e frequentar à alta sociedade. Mas a jovem, ou melhor, sua família, tinha em vista Carlos Keller para noivo. 

Mas eis que chegou a notícia de que Carlos Keller morreu em guerra na África. Aparentemente o caminho estava livre para Simão. Mas eis que chegou à cidade um nobre desconhecido. "Não há cidade pequena na França na qual, num momento dado, não se represente o drama ou a comédia do forasteiro. Muitas vezes este é um aventureiro que faz vítimas e se vai, levando a reputação de uma mulher ou o dinheiro de uma família" (BALZAC, 1991, p. 276). Não há como não recordar de O Inspetor Geral de Gógol...

O desconhecido não era ninguém menos do que Máximo de Trailles, conhecido dândi, colecionador de mulheres e financeiramente arruinado. Ele vai para Arcis para se candidatar a deputado e garantir a candidatura para a Monarquia de Julho. A decisão foi tomada em Paris, no salão da Marquesa d´Espard, dois meses antes da reunião que abre o romance, que lançou a candidatura de Simão. Sabemos que Máximo manteve conversas com Gondreville e com os Cinq-Cygne, arqui-inimigos em função do caso judicial do passado. E que seus modos finos e a sua equipagem despertaram o interesse de Cecília. Contudo, Balzac parou aqui. 

A trama é tipicamente balzaquiana, com as descrições de ambientes e dos aspectos físicos e psicológicos. O diferencial de O Deputado de Arcis é o proveito que Balzac tira da sua "invenção", de mostrar o passado ou o futuro das sua personagens. O recurso que, em alguns romances, fica um pouco artificial, aqui é utilizado de forma brilhante. Os desfechos iluminam as histórias pregressas. A amizade de Grévin e Malin, a ascensão do filho do granjeiro Beauvisage, o  ministro  De Rastignac, o jovem que olhou Paris do alto da colina do Père-Lachaise no enterro do Pai Goriot

O desfecho seria o sucesso de Máximo de Trailles nas eleições e no coração de Cecília? É o que parece. Mas não esqueçamos que, muitas vezes, Balzac nos surpreende no final. 

BALZAC, Honore de. A Comédia Humana. vol. XII. São Paulo: Globo, 1991. 

Não encontrei a fonte da imagem. O texto é da parte III do romance: "Ele vivia sorrindo a todos. (...) Seus lábios abonecados triam sorrido em um enterro" (BALZAC, 1991, p. 236). 

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