quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Uma Filha de Eva (dezembro de 1843)

Personagens: Maria Eugênia (du Tillet), Maria Angélica (de Vandenesse), Conde du Tillet, Conde Felix de Vandenesse, professor Schmucke, Raul Nathan, Florina, senhora de Nuncingen, Gigonet (agiota).

A história se passa entre 1829 e 1835.

A filha de Eva é Maria Angélica de Vandenesse. Ela é, juntamente com Maria Eugênia, filha do infeliz e já nosso conhecido conde Rogério de Granville. Criadas pela mãe, Angélica, afastadas da sociedade e expostas à exagerada devoção da condessa, estavam muito mal preparadas para a vida na frívola sociedade parisiense. Casaram-se cedo para escapar do jugo materno: Eugênia, com o banqueiro de reputação dividosa Du Tillet; Angélica, com o elegante Felix de Vandenesse.
Maria Angélica teve mais sorte que a irmã. Vandenesse foi para ela “amante, pai, professor e marido” e “ao cabo de quatro anos teve a satisfação de haver feito da Condessa de Vandenesse uma das mais amáveis e notáveis mulheres de seu tempo”. Tudo estava perfeito. E aí começaram os problemas. “Vandenesse, ao satisfazer tudo, suprimira o desejo, esse rei da criação, que absorve uma soma enorme de forças morais”. Além do fastio do casamento feliz, Maria Angélica estava cercada de amigas que excitavam a sua imaginação destacando as maravilhas de possuir um amante. Nesse contexto, apareceu o jornalista e arrivista social Raul Nathan, por quem a condessa caiu de amores. Nathan era amante há dez anos da atriz de segunda linha Florina, e buscava uma ligação na alta sociedade. Quando Nathan se endividou, a ponto de ser preso (na verdade uma manobra de Du Tillet com o objetivo de afastar o jornalista da carreira política), Angélica, com a ajuda da irmã e do velho profesor Schmucke, pediu dinheiro emprestado à senhora de Nuncingen, e quase arruinou sua reputação. Eugênia, então, contou tudo ao conde de Vandenesse que perdoou Angélica e consertou a situação.
Assim como Uma estreia na Vida, Uma filha de Eva é um romance movido por acasos que se sucedem aos personagens principais. Isso cria para o leitor um clima de suspense: o adultério de Angélica irá se consumar? Ela conseguirá o dinheiro para salvar Nathan? Vandenesse perdoará a esposa? Bazac possuía uma agenda. No prefácio à primeira edição a Uma filha de Eva, ele escreveu: “Uma filha de Eva está destinada a pintar uma situação na qual se encontram algumas mulheres, empurradas a uma paixão ilícita por uma multidão de circunstâncias, mais ou menos atenuantes, mas que, não se vendo gravemente comprometidas, são bastante sábias para voltar à vida conjugal. As infelicidades da paixão ensinaram-lhes as doçuras de um casamento feliz”. Contudo, ele deu essa explicação depois da obra estar concluída. O romance poderia ter outro final - Angélica descoberta e abandonada pelo marido - e ser ainda assim o mesmo romance. A roda da fortuna teria dado outra volta.
Outro ponto interessante, são as conexões entre histórias da Comédia Humana. Conhecemos a origem do despreparo de Angélica para a vida social. Não conhecemos ainda a fonte da compreensão do conde Vandenesse. Mas conheceremos.