terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Um homem de negócios

Um homem de negócios (Paris, 1845)

Volume XI: Estudos de Costumes - Cenas da Vida Parisiense (lido entre 16 de fevereiro de 2021 e 26 de março de 2022)

Personagens principais: Margarida Turquet (Málaga), Cardot, Desroches, Bixiou, Nathan, Lousteau, La Palférine, Máximo de Trailles, Claparon, Cérizet, sra. Chocardelle (Antonia), Ida Bonamy, Croizeau, sr. Denisard (Cérizet), Hortênsia, Nuncingen. 

A história se passa em algum momento entre 1840 e 1845.

Maxime Dastugue. Retrato de Balzac (1886), Museu de Versalhes

Um homem de negócios é um conto ao estilo de história dentro da história, como Gobseck e Outro Estudo de Mulher. Um grupo de personagens conhecidos da Comédia Humana se encontra na casa da cortesã ou lourette Málaga, amante do tabelião Cardot. Desroches conta a disputa entre Máximo de Trailles e Cérizet, devedor e credor. Cérizet se faz passar por um diretor de aduana, Denisard, para cobrar uma dívida de Máximo de Trailles. O mulherengo, bon vivant e devedor inveterado, De Trailles, está na faixa dos cinquenta anos. Já o encontramos em Gobseck e O Pai Goriot, sempre explorando e arruinando mulheres.
 

Lembremos que Balzac vivia devendo dinheiro e conhecia todas as manhas do assunto. O tema desse pequeno texto, o dinheiro, é também uma dos temas da vida do nosso mestre. 


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

O Primo Pons

O Primo Pons (julho de 1846-maio de 1847) - Os Parentes Pobres

Volume X: Estudos de Costumes - Cenas da Vida Parisiense (lido entre 25 de junho de 2020 e 10 de fevereiro de 2021 )
 
Personagens principais: Silvano Pons, Schmucke, sra. Cibot, sr. Cibot, Gaudissart, sr. Camusot de Merville (presidente da Câmara na corte real de Paris) , sra. Camusot-Merville (presidenta), srta. Cecília Camusot, Madalena Vivet (criada da presidenta), Rémonencq, sra. Fontaine (cartomante), Wilhelm Schwab (flautista da orquestra), Heloísa Brisetout (bailarina), Fritz Brunner, Berthier (tabelião), dr. Poulain, Elias Magus, Fraisier, sr. Leboeuf, Trognon (tabelião), Leopoldo Hannequin (tabelião), sr. Tabareau (tabelião), vigário Duplanty, sra. Sauvage, sra. Cantinet, corretor da casa Sonet, Villemot (primeiro escrevente de Tabareau), Topinard, sra. Topinard (Lolotte), Vitel (juiz de paz).



A história se passa entre outubro de 1844 e 1846.

Imagem de Théophile Robaudi

Aqui vou ter a ousadia de discordar de Paulo Rónai. Ele prefere O Primo Pons. Eu prefiro A Prima Bete. Rónai destaca a conexão do segundo com o resto da Comédia Humana, considerando que "representa como que o fecho da abóbada de todo o edifício". De fato, há desfechos e entreatos para diversos personagens. Mas isso, em alguns momentos, deixa a história confusa. Sem falar que se confirma a falta de vocação de Balzac para criar a bondade. Pons e Schmucke são menos interessantes que a Cibot e Fraisier. 
Os músicos, Pons e Schmucke, trabalhavam juntos em um teatro popular, administrado por nosso já conhecido Gaudissart. Talentos medíocres e já na terceira idade, resolveram dividir a solidão morando juntos. Mas Pons, que chegou a ensaiar uma carreira promissora no período do Diretório, tinha duas paixões maiores que a música: a boa comida e as obras de arte. São elas que impulsionam a ação. 
Com seu modesto salário e com o hábito dispendioso de adquirir obras de arte, Pons fila jantares na casa de parentes melhor aquinhoados. Uma dessas casas é a da presidenta Camusot de Merville, sua prima distante. Com frequência é humilhado pelos empregados, pela parenta e por sua filha, mas releva para não abrir mão da boa mesa. Querendo agradar a família Camusot, arranja um bom partido para a jovem Cecília Camusot, o alemão Fritz Brunner. O casamento não se concretiza e Pons cai em desgraça, sendo afastado e difamado pelos parentes ricos. 
Aí entra a personagem mais importante da obra, que não está na lista do início: a coleção. Pons, ao longo da vida, acumulou um verdadeiro museu, que ficava em duas salas do seu apartamento. Quadros, esculturas, objetos decorativos, belas molduras. A vida discreta que levava fazia com que a maioria das pessoas desconhecesse a coleção e, principalmente, seu valor. Aqui, um dado biográfico. Balzac, em seus últimos anos, se entregou ao colecionismo como se entregava a tudo na vida, sem limites. Os resultados foram muitas dívidas e alguns logros, compra de peças falsas ou de objetos de pouco valor a ele empurrado como valiosos. Zwieg comenta que, quem lê as cartas de Balzac desse período, sem saber quem ele era, vai julgar tratar-se de um colecionador ou comerciante de artes, pois há mais referências a isso do que à literatura. Assim, na coleção de Pons, há muitos quadros que eram de Balzac. 
Pons adoece e incia a trama pérfida da porteira Cibot, do advogado picareta e desonesto Fraisier e da presidenta para roubar a herança do músico, que deveria ficar para Schmucke. Quem conhece Balzac pode adivinhar que o conluio deu certo. Pons morreu e a coleção ficou com Camusot-Merville. Fraisier obteve um cargo público e a Cibot, uma boa quantia em dinheiro. O pobre Schmucke teve que sair do apartamento e contou somente com a ajuda de Topinard, empregado do teatro, o único que se preocupava com os dois quebra-nozes, como os dois velhos amigos eram conhecidos. O pianista Schmucke não viveu muito mais do que o companheiro. 
Um dos pontos interessantes é a indústria da morte na Paris do século XIX. Todo um conjunto de pessoas, funcionários, tabeliães, advogados, marmoreiros, cocheiros, mestres de cerimônias, cujo sustento depende da morte e que infestam os primeiros momentos da perda de um ente querido. São tantos tabeliães que fiquei confusa e tive de fazer uma lista. 
Enfim, é um bom romance, é bem escrito, foi o último trabalho totalmente escrito por Balzac. Mas não tem a vibração da Prima Bete, que largamos tudo para não parar de ler. Questão de "gosto pessoal", como diz o mestre Paulo Rónai. 

A imagem é de Honoré de Balzac. Cousin Pons. Philadelphia: George Barrie & Son, 1897.