sábado, 31 de dezembro de 2011

O mal que ronda a terra

O mal que ronda a terra: um tratado sobre as insatisfações do presente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. Tradução: Celso Nogueira.

Conheci Tony Judt quando encontrei em uma livraria a obra Reflexões sobre um século esquecido. É um livro que reproduz resenhas publicadas, em geral, na New York Rewiew of Books. É estranho ler resenhas longas de livros não lidos, pois não lera a maioria dos livros resenhados. Mas as obras eram quase pretextos para revisões excelentes de temas importantes do século XX: a guerra fria, o conflito entre Israel e Palestina, o leste europeu depois do fim do comunismo, a política nos Estados Unidos e na Europa, sem falar nas biografias de intelectuais que marcaram o século passado. Me apaixonei pela clareza do texto de Judt. E, claro, fui buscar outras obras.
Tenho lido muitos textos sobre o mundo depois da guerra fria. E percebo uma certa convergência entre autores que adotam perspectivas teóricas muito diversas. Erik Hobsbawm, Francis Fukuyama, Immanuel Wallerstein, Robert Gilpin consideram que é preciso fazer alguma coisa para controlar os efeitos deletérios da globalização.
Pois, Tony Judt, em O mal que ronda a terra, enfrenta justamente essa questão.
Judt inicia chamando a atenção para o fato de que "do final do século XIX até os anos 1970, as sociedades ocidentais avançadas estavam todas se tornando menos desiguais". Mas "no decorrer dos últimos trinta anos nós jogamos tudo isso fora." Apesar do aumento bruto da riqueza mundial, a desigualdade, ou seja, a distância entre ricos e pobres, aumenta mesmo nos países mais ricos. O autor destaca que a aceitação passiva dessa realidade, como se fosse natural, bem como o caráter materialista e egoísta da vida humana contemporânea datam da década de 1980.
A partir desse ponto, Judt passa a fazer uma revisão histórica para compreender como se chegou a esse ponto. Foram os efeitos da Grande Depressão e seus desdobramentos sinistros que fizeram com que conservadores anti-comunistas como Franklin Roosevelt, Charles de Gaulle e Clement Atlee aceitassem e patrocinassem a intervenção do estado na economia. "Em parte, por que todos temiam as implicações de um retorno aos horrores de um passado recente, e se mostravam dispostos a restringir a liberdade do mercado em nome do interesse público".
O economista que se dedicou a esse desafio foi John Maynard Keynes. Keynes viveu o final da pax britânica e viu o mundo em que vivia (nasceu em 1883) desmoronar, levando vidas, países, riqueza material, ideias em que se baseavam sua cultura e classe social. Ele começou a se dedicar ao estudo da incerteza. E percebeu que um dos maiores atrativos do nazismo e do fascismo eram a autoridade centralizada e o planejamento. Muitos que jamais apoiariam Hitler, o festejaram quando reduziu o desemprego na Alemanha. A grande questão para os políticos do pós segunda guerra era: como evitar uma nova grande depressão e o apelo ao autoritarismo que esse tipo de situação gera? Como evitar a atração do socialismo soviético?
O estado de bem estar social ou de seguridade social foi patrocinado por políticos de diversas orientações partidárias nos diversos países da Europa e dos Estados Unidos. A política do universalismo, que ofereceu à classe média o mesmo acesso a serviços públicos destinados aos pobres, comprometeu-as com as instituições liberais. Foram as classes médias desempregadas e empobrecidas que primeiro apoiaram o fascismo. Elas se tranformaram no esteio da democracia liberal (Francis Fukuyama em texto denominado The Future of History se pergunta se a democracia liberal sobreviverá com o declínio da classe média causado pela globalização).
Mas o tempo passou. E a geraçào que entrou na universidade na década de 1960 só conhecia os horrores do entre guerras de ouvir falar. Eles "só conheceram um mundo de chances maiores, serviços médicos e educacionais generosos, perspectivas otimistas de mobilidade social e - acima de tudo, talvez - uma sensação de segurança indefinível, mas onipresente." Para Judt, o conflito de gerações na década de 1960 transcendeu as questões de classe e nacionalidade. Em função da televisão, dos rádios portáteis e da internacionalização da cultura popular uma grande brecha se abriu entre a geração dos anos 1960 e a geração dos seus pais. A palavra de ordem da época era o individualismo: "a afirmação da exigência pessoal de liberdade privada maximizada e irrestrita para exprimir desejos autônomos, que fossem respeitados e institucionalizados pela sociedade como um todo". Os objetivos comuns da geração anterior foram substituídos por objetivos privados. "Na verdade, muitos radicais dos anos 1960 eram defensores entusiasmados de escolhas impostas, quando elas afetavam povos distantes que pouco conheciam. Em retrospecto, chama a atenção a imensa quantidade de pessoas, na Europa e nos Estados Unidos, que proclamavam seu entusiasmo pela revolução cultural de Mao Tse Tung, ditatorial e unificadora, enquanto definiam a reforma cultural doméstica como a maximização da autonomia e da iniciativa privada".
O autor julga que o marxismo, que era mais retórico do que real,  encobria uma postura egoísta da esquerda nessa época: o movimento estudantil estava mais preocupado com o horário do fechamento do portão das universiades e com usar roupas menos formais nas aulas do que com as condições sociais dos trabalhadores.
Judt esclarece de onde vêm as ideias econômicas que prosperam no mundo atual. Os economistas da Universidade de Chicago as retiraram dos textos de economistas da Europa central: Friedrich Hayek, Joseph Shumpeter, Karl Popper e Peter Drucker, entre outros. Esse teóricos se dedicaram a responder a mesma questão de Keynes - como a Europa liberal afundou, dando lugar ao fascismo. Mas deram uma resposta bastante diferente: o único caminho para defender o liberalismo e a sociedade aberta era manter o estado fora da vida econômica. Eles previram o fracasso do estado de bem estar social e, por muito tempo, seus pares (todos emigraram para o ocidente) julgavam que haviam cometido um erro de cálculo. Foi quando o estado social começou a enfrentar dificuldades que eles obtiveram uma plateia.
Na sequência, Judt analisa como essa geração, ao chegar ao poder na década de 1980, desmontou o estado de bem estar social. Fala da privatição descontrolada e usa como exemplo o sistema ferroviário inglês que foi privatizado na era Thatcher. O resutado é um sistema caro, ineficiente, que tem que ser subsidiado pelo Estado e é o mais inseguro da Europa ocidental. Aqui ele levanta a questão dos custos sociais, culturais e ambientais que devem ser levados em conta, juntamente com os econômicos.
O autor considera que uma das piores consequências da demolição do serviço público é a crescente dificuldade de compreender o que temos em comum com as outras pessoas. Por isso, a instituição ícone de nossa época é o condomínio fechado, "símbolo do reconhecimento descarado do desejo de se isolar de outros membros da sociedade, assim como reconhecimento formal da incapacidade ou omissão do Estado (ou do município) em impor sua autoridade sobre um espaço público contínuo".  Judt julga que essa perda do senso de interesses em comum não é restrita a propietários ricos: nos Estados Unidos estudantes judeus ou afro-americanos muitas vezes optam por morar em dormitórios exclusivos, comer sepradamente e se matricular em cursos étnicos.
O que fazer diante desse quadro? Tony Judt diz que não podemos esquecer o passado, viver como se o século XX não tivesse existido. Ele defende abertamente o fortalecimento do papel do Estado, ainda que reconheça a ineficiência do mesmo em diversas esferas. E  diz que temos que começar a falar sobre todas essas coisas. Por isso, escreveu o livro.
O mal que ronda a terra foi publicado em fevereiro de 2010. Tony Judt faleceu precocemente em agosto do mesmo ano. É uma pena não poder mais contar com seu texto lúcido e coerente. Felizmente, ele deixou uma vasta obra e, principalmente, ideias.

Feliz Ano Novo!

A musa do departamento

A musa do departamento (junho 1843-agosto 1844) segunda história de "Os parisienses da província".

Personagens: Milaud de La Baudraye; Diná Piédefer; Senhora Piédefer; senhor de Clagny (procurador do Rei); senhor Gravier; Visconde de Chargeboeuf (subprefeito); padre Duret; baronesa de Fontaine; Estevão Lousteau; Horácio Bianchon; Visconde de Chargeboeuf; senhor Cardot; Felícia Cardot; Senhora Cardot; Bixiou.

Nessa história acompanhamos a vida de Diná Piédefer, uma jovem bela e dotada de inteligência singular, mas desprovida de um dote atraente. Seu pai faleceu em 1819, deixando a mãe e Diná com 12 anos. O padre Duret ajudava a mãe e obter um noivo para filha, quando surgiu o bem mais velho e nada instigante senhor de La Baudraye, nobre recente, mas muito ambicioso da cidade de Sancerre. Casaram-se em 1824, Diná com 17 anos e La Baudraye com 44.
Diná logo organizou um salão, onde mostrava seus dotes culturais. Em torno dela, reuniu-se um círculo de admiradores: o senhor de Clagny, o senhor Gavier, o Visconde de Chargeboeuf e o jovem Visconde de Chargeboeuf.
Com o tempo, porém essa musa do departamento começou a se aborrecer com a mediocridade da vida provinciana. Teve um choque quando recebeu a visita de Ana, baronesa de Fontaine, colega da época do colégio. Viu a diferença entre ela, uma mulher provinciana, e a elegância da parisiense. Sob um pseudônimo, começou a escrever versos. Um poema, Paquita, a sevilhana, fez muito sucesso. Com o tempo, sua identidade foi descoberta.
Em 1836, Diná recebeu em seu castelo duas celebridades conterrâneas: o doutor Horácio Bianchon e o escritor e jornalista Estevão Lousteau. Depois de alguns dias, Diná e Estevão tornaram-se amantes. O cínico Lousteau, que havia armado a história com Bianchon, passou uma temporada em Sancerre e, após, retornou a Paris. Lá retomou a sua vida boêmia e suas atrizes. Em dificuldades financeiras, pensou em casar. Enquanto isso, Diná lhe escrevia cartas apaixonadas que ele sequer lia. Recebeu uma oferta para desposar a senhorita Felícia Cardot, que havia dado um mau passo e o pai, o tabelião Cardot, fez uma bela proposta para que Estevão aceitasse a moça. Nesse momento, Diná chegou à casa de Estevão em Paris e declarou que estava grávida. Havia deixado de La Baudraye e queria viver com o escritor, apesar das terríveis consequências. Estevão, num primeiro momento ficou apavorado. Após, pensando na idade avançada do marido de Diná e na bela herança, resolveu assumi-la. Viveram por seis anos e tiveram dois filhos.
Em 1842, de La Baudraye, muito mais rico, conde e par de França procurou a esposa e propôs que ela voltasse para Sancerre. Aceitando ou não sua oferta, ele levaria os “seus filhos” quando atingissem a idade de seis anos. Diná aceitou e deixou Estevão.
No final, em 1843, Diná esperava mais um filho.
Narrativa tipicamente balzaquiana, com abertura histórica - antecedentes familiares de de La Baudraye e Diná e muitas idas e vindas. Um escritor menos hábil se perderia facilmente. Não Balzac. Vamos do salão provinciano de Diná aos versos de Paquita, a sevilhana. Vamos do sarau de Diná com os “parisienses” à vida boêmia de Estevão de volta à capital. Vamos do crescimento da paixão de Diná por Lousteau ao seu lento, mas certo, declínio.
O ponto alto do romance é justamente o desvanecer da paixão. Balzac fez (é está expresso no texto) uma paródia do romance Adolfe de Benjamin Constant (por mim aqui resenhado).
Balzac aqui mostra aquela imparcialidade que o caracteriza (embora, por vezes, ele a abandone). A vida de Diná com de La Baudraye não a faz feliz, mas, com exceção de alguns momentos, tampouco a vida com Estevão. O retorno de Diná para Sancerre resolveu o problema social tornando-a, novamente, uma “mulher honesta”. Mas isso irá assegurar a felicidade? Ao final, temos a felicidade pragmática. Diná estava esperando mais um filho, mas não do marido. Seria de Estevão? Do fiel senhor de Clagny? Ou de outro?

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Memórias de uma moça bem comportada

Memórias de uma moça bem comportada. Simone de Beauvoir. Rio de Janeiro: Nova Fonteira,1983. Tradução: Sérgio Milliet.

Lido em setembro de 2011.

Nunca pensei em ler uma biografia de Simone de Beauvoir. Mas duas coincidências me levaram a fazê-lo. Assisti, em agosto, a peça Viver sem Tempos Mortos na qual Fernanda Montenegro apresenta um monólogo a partir de textos das obras e a correspondência de Simone. Gostei muito de algumas passagens, a ponto de pensar como seria bom ter o texto da peça para ler. Algumas semanas depois, fui à biblioteca localizada no clube que frequento. É um biblioteca organizada com doações dos sócios, de modo que há muitos livros antigos. Encontrei o livro e abri na primeira página: “Nasci, às quatro horas da manhã, a 9 de janeiro de 1908, num quarto de móveis laqueados de branco e que dava para o Bulevar Raspali.” Quem resiste a esse início? 
Simone escreveu esse primeiro volume da sua autobiografia (houve diversos outros depois) aos quarenta e oito anos. Ouso dizer que se trata de uma biografia de “formação”. Como nos romances de formação, existe um ponto de partida e um ponto de chegada: esse último é a vida adulta., 
Os primeiros anos são dominados pela família: classe alta, mas não ricos; católicos, o pai , formalmente, a mãe, devota. Simone atribui muito mais influência ao pai do que à mãe em sua personalidade. Ele era um homem culto, gostava de literatura - organizava um caderno com recomendações de livros para Simone - e tinha uma paixão: representar. Simone comenta que ele não desprezaria os preconceitos do seu meio para abraçar uma carreira de ator. Desse modo, se realizava participando de montagens amadoras na casa dos amigos. A mãe era uma católica severa e devota. Simone dá  a impressão de viver um clima de animosidade com Françoise desde muito pequena. Ela atribui às diferenças entre seus pais a origem de seus pendores intelectuais: “(...)o individualismo de papai e sua ética profana contrastavam com a severa moral tradicionalista que mamãe me ensinava. Esse desequilíbrio que me impelia à contestação explica em grande parte que tenha me tornado uma intelectual.”
A religião católica ocupava um local importante na vida de Simone. Ela era devota e participava de todos os rituais: comunhão, novenas, retiros. Chegou a formular um plano secreto de se tornar freira. Mas um sermão do padre de sua igreja  que contava que uma menina que lera livros inadequados, ficou confusa e se suicidou perturbou sua fé.  Mais tarde ela relata a naturalidade da perda de sua fé. A Simone de quarenta e oito anos que escreveu, filosofou a respeito, mas a garota de quinze um dia deu-se conta de que deus não existia. 
A partir desse ponto, a vida de Simone vai se diferenciando da das mulheres de sua geração. Mas não sem percalços. O principal talvez tenha sido a paixão pelo primo Jacques e o sonho acalentado por anos de casar com ele. Aqui a Simone madura hesita em revelar que tenha cultivado tanto esse sonho. Mas a recorrência com que Jacques aparece no relato e o final demonstram que por pouco um dos casais mais famosos do século XX não teria existido. Na última parte do livro Simone declara querer tirar a limpo suas relações com Jacques. Quando ainda estava em um estranho namoro e após uma viagem de Jacques para a Argélia, Simone foi surpreendida pela notícia de que ele havia ficado noivo de uma moça que mal conhecia. Então ela conta que o casamento não deu certo e  que Jacques passou por uma enorme decadência financeira. Encontrou-o vinte anos depois, envelhecido, doente em função do alcoolismo, vestido como um mendigo e vivendo de favores. Ela nos conta que faleceu com quarenta e seis anos. 
Tudo bem que o leitor da biografia precisava saber do namoro de Simone com o primo e do desfecho. Mas a narrativa parece mais uma desforra: viram, ele casou com outra (não me quis) e vejam o que lhe aconteceu?! As feministas são mulheres como todas as outras. 
Teria muito para contar. A biografia é rica, densa. Há a decisão de estudar filosofia, a amiga Zaza, que faleceu aos vinte anos, uma incursão de nossa moça bem comportada pela vida boêmia na Paris dos anos 1920 e, bem no final, o encontro com Jean-Paul Sartre, que será desenvolvido no próximo volume. 
Gostei muito da leitura, pois me identifiquei com alguns pontos. Eu também tive uma educação católica e pensei em ser freira. E, por volta dos doze ou treze anos, deixei de acreditar em deus de uma forma natural. Não li nada, ninguém me falou nada, só passei a sentir que aquilo não fazia sentido. Eu também construí a minha identidade através da leitura e até hoje tenho uma paixão feroz por aprender. Muito do que ela falou sobre isso tem a ver comigo.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O Ilustre Gaudissart

O Ilustre Gaudissart (Paris, 1837 *) - primeira história de "Os parisienses na província"

Personagens: Gaudissart, Jenny Courant, hospedeiro Mitouflet, senhor Vernier, senhora Vernier, senhor Margaritis, senhora Margaritis.

A história se passa em 1831.

O Ilustre Gaudissart é uma novela curta. Praticamente metade da narrativa é dedicada a fazer o retrato de Gaudissart, que é o de qualquer caixeiro-viajante, figura que surgiu na França na época em que Balzac escrevia a Comédia Humana. Um tipo superficial que possuía um simulacro de cultura, em geral, de acordo com o artigo que vendia e com seu público alvo.
Até 1830, Gaudissard comercializava apenas o Artigo-de Paris, ou seja, produtos industriais fabricados na cidade. Com a agitação política e financeira de 1830, resolveu diversificar seus negócios. Se dedicaria a vender seguros e assinaturas de jornais na província, sem deixar de lado o Artigo-de-Paris.
Os jornais eram Le Globe, fundado em 1824, que a partir de 1830 passou a divulgar as doutrinas de Saint-Simon; Le Movement, jornal republicano; e o Jornal dos Filhos, dedicado às crianças
A história propriamente dita se desenvolve em Tours. Gaudissart se despediu de sua namorada Jenny e ao chegar à capital da Touraine, local de pessoas desconfiadas e pouco dadas à novidade. Tentou, então, conquistar a confiança do senhor Vernier, figura importante da comunidade. Esse resolveu pregar-lhe uma peça, mandando-o conversar com o senhor Margaritis. Disse que Margaritis era uma pessoa muito influente na cidade e que, caso ele comprasse o seguro, todos comprariam. Ocorre que o italiano Margaritis era insano há muitos anos e era cuidado por sua mulher. Gaudissard foi até lá e entabulou uma conversa muito engraçada com o louco, não percebendo o engodo. Inclusive aceitou comprar dois barris de vinho de Margaritis, que na verdade ele nem possuía. Voltando à hospedaria de Mitouflet, descobriu que fora enganado e que toda a cidade estava rindo dele. Desafiou, então, Vernier para um duelo. No dia e hora de se baterem, fizeram as pazes e foram almoçar juntos.
Paulo Rónai diz na sua introdução que a história não é muito boa pela falta de talento de Balzac para o cômico. Apesar da conversa de Gaudissart com Margaritis ser engraçada, temos a impressão que ela poderia ter sido melhor trabalhada. Na verdade, o ponto alto da novela é o retrato de Gaudissad, o homem que, ao chegar em uma casa, deixava sua personalidade na porta de entrada.

Segundo o Visconde Spoelberch de Lovenjou, em Histoire des Ouvres de Balzac, essa data está incorreta. Deve ser substituída por 1833.