terça-feira, 30 de março de 2021

Gaudissart II

 Gaudissart II (novembro de 1844)


Volume XI: Estudos de Costumes: Cenas da Vida Parisiense

Personagens: gerente de loja (Gaudissart II), Du Ronceret, Bixiou, uma inglesa.

Quando comecei a escrever esse post, cometi um ato falho que resume esse curtíssimo texto (Balzac o chama de "pequeno vaudeville") . Em vez de "estudos de costumes", escrevi "estudos de consumo". Gaudissard II é sobre isso: a sociedade de consumo que se estabeleceu na França no século XIX com centro em Paris. 

O texto mostra as manobras dos caixeiros e vendedores, alguns donos de lojas muito ricos, para vender seus produtos a uma clientela variada, predominantemente de mulheres (embora muitos homens, Balzac inclusive, sejam muito consumistas). Eles são sucessores do nosso já conhecido Ilustre Gaudissart. Portanto, todos são Gaudissart II. 

Um desses Gaudissart consegue vender um xale, que vale muito menos do que o cobrado,  a uma reclacitrante inglesa, utilizando a psicologia típica dos vendedores. 

Referência da ilustração. Honoré de Balzac. Gaudissart II. Philadelphia: Gebbie Publishing Co., 1899.

Um príncipe da boêmia

Um príncipe da boêmia (1839-1845)

Volume XI: Estudos de Costumes - Cenas da Vida Parisiense

Personagens principais: sra. de Baudraye (Diná Piédefer), Marquesa de Rochefide (Beatriz), Nathan, Carlos Eduardo Rusticoli (Conde de la Palférine), Claudina du Bruel  (Túlia),  Du Bruel (De Cursy), Bianchon, Lousteau. 

A história se passa entre 1834 e 1837. 

Paulo Rónai nos diz, na introdução de Um príncipe da boêmia, que a história é confusa e a leitura, árdua. Pois, discordo. Achei a leitura muito agradável. Se sabemos que se trata da história do romance do Conde de la Palférine com Claudina/Túlia contada por Nathan à Marquesa de Rochefide e escrita pela sra. de Baudraye, não há confusão (!). 

Lembremos que  a sra. de Baudraye é Diná Piédefer, a Musa do Departamento. Ela está em Paris vivendo com Estevão Lousteau em dificuldades financeiras. E pede a Nathan que lhe dê algum trabalho literário. O resultado é Um Príncipe da boêmia. E a amante de Nathan, Marquesa de Rochefide, é Beatriz

Conhecemos a história de amor não correspondido de Claudina pelo nobre empobrecido Carlos Eduardo Rusticoli, De la Palférine. Famoso pelos chistes e por não pagar dívidas, Carlos Eduardo torna-se amante de Claudina. Ela é a mais dedicada das mulheres: faz todas as vontades do amante, aparece nos horários por ele determinados, escreve longas cartas de amor. Tudo o que ela houve do amado é "És uma boa rapariga". Então sabemos que Claudina é a dançarina Túlia, que se aposentou dos palcos em 1829 para tornar-se a senhora Du Bruel. Du Bruel é o nome verdadeiro do dramaturgo De Cursy. Depois de vários anos trabalhando com Túlia no teatro, a desposou. O casamento não foi anunciado. Túlia rompeu sua ligações mundanas e se reinventou como uma burguesa casada e respeitável. Então, Túlia/Claudina apaixonou-se pelo frívolo Carlos Eduardo De la Palférine. Cansado da amante, apesar dela se submeter a todos os seus caprichos, o rapaz colocou uma condição: "Deves ter uma carruagem, lacaios, uma libré". Pois a obstinada Claudina cumpriu as condições em três anos. No final, ela se apresenta a Carlos Eduardo com tudo o que ele demandou. O desenlace: o interesse da Marquesa de Rochefide pelo frívolo nobre. 

Não é um grande texto literário, mas é uma leitura agradável. 

Dois pontos interessantes. A obstinação de Claudina com o amor não correspondido que Paulo Rónai considera um estudo de psicologia. Persistir em algo tão penoso se transforma em uma verdadeira missão de vida. Podemos, inclusive, imaginar que, caso o rapaz cedesse e se mostrasse apaixonado, o interesse de Claudina declinaria. 

Mais instigantes são os sinais trocados nas relações Carlos Eduardo/Claudina e Du Bruel/Claudina. No casamento, ela está no comando e submete o atordoado marido aos seus caprichos. Não somente isso. Ela manobra a carreira de Du Bruel, que se torna par de França e conde. Um homem que teria de contentado em permanecer como autor de vaudevilles de qualidade duvidosa e frequentador da boêmia parisiense. Ou seja, há aspectos psicológicos nessa novela que recomendam muito  a sua leitura. 

Referência da ilustração. Honoré de Balzac. A prince of Bohemia and other stories. Philadelphia: Gebbie Publishing Co. 1899.