quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Z. Marcas

Z. Marcas (1840)

Volume XII: Estudos de Costumes: Cenas da Vida Política, Cenas da Vida Militar. 

Personagens: Carlos Rabourdin (narrador, estudante de direito), Justo (estudante de medicina), Zeferino Marcas. 

A história se passa entre 1836 e janeiro de 1838

Paulo Rónai, na introdução desse conto, utiliza a acertada definição de Guyon, em Le Cathécisme Social: "mistura estranha de confidência pessoal, confissão de importância e sátira violenta contra o governo burguês, egoísta e gerontocrata da da Monarquia de Julho". Z. Marcas conta as desventuras de um estrategista político, um autêntico "homem de Estado", traído por políticos medíocres que ele ajudou a colocar no poder. 

Pierre Jean David (David D´Angers), 1843

A história é contada por Carlos Rebourdin, filho de Xavier Rebourdin, de Os funcionários. Carlos e seu colega de quarto, Justo, eram vizinhos de Marcas em uma pensão de estudantes na rue Corneille. Ajudando a mitigar a penúria de Marcas, os jovens escutam suas histórias e passam a admirá-lo. O auxiliam em uma última empreitada que não dá certo e resulta na morte do herói aos 35 anos. 

Rónai aponta o problema do texto. Balzac se identifica com o personagem. Assim Balzac descreve Marcas: "Seus cabelos assemelhavam-se a uma juba, seu nariz era curto, achatado, largo e fendido na ponta, como o de um leão. Tinha a fronte dividida por um sulco profundo, dividida em dois lobos potentes, como a de um leão" (BALZAC, 1991, p. 324). E esses eram seus hábitos: "Trabalhava durante metade da noite. Depois de ter dormido de seis a dez horas, levantava-se paras recomeçar, e escrevia até as três horas. Saía então para ir levar as suas cópias entes do jantar e ia comer na rue Michel-le-Comte, à casa Mizerai, à razão de nove sous por refeição. Voltava depois para deitar-se às seis horas" (BALZAC, 1991, p. 326). É Balzac falando dele mesmo. O problema é que o que é evidente para o autor não o é para o leitor. Onde Balzac vê grandeza e inteligência, nós leitores vemos ambição e vaidade. O texto é grandiloquente e chato. 

Vale a pena destacar ainda que Z. Marcas é uma crítica mordaz da Monarquia de Julho e da sociedade francesa permeada pelo dinheiro: "(...) o Estado, assaltado pelos mais insignificantes postos da magistratura, acabou exigindo dos solicitantes certa fortuna. (...) Hoje o talento precisa  a sorte que faz triunfar a incapacidade; mais ainda, se descura das aviltantes condições que dão êxito à mediocridade rastejante, jamais triunfará" (BALZAC, 1991, p. 322). Mas Balzac mostra isso muito bem em diversos textos. Aqui faz um libelo que está aquém de sua grandeza. 




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