sábado, 17 de junho de 2023

A Bretanha em 1799

A Bretanha em 1799 (agosto de 1827 ou 1829?)

Volume XII: Estudos de Costumes: Cenas da Vida Política, Cenas da Vida Militar. 

Personagens: Comandante Hulot, Gérard (ajudante), Capitão Merle, Pé de Poeira (Pedro), Subtenente Lebrun, Pé Bonito (João Falcon), padre Gudin, Gars-Maruqês de Montauran, Furta Pão (Cibot), Coupiou (condutor), Jacques Pinaud (Orgemont de Fougères), Francine, Maria Natália de Verneuil, Corentin, Sra. do Gua, Barão de Guénic, major Brigaut, Conde de Bauvan, Furta Pão, Barbette, Galopa  Caneca, Cavaleiro do Vissard (Rifoel).

A história se passa em 1799. É o primeiro livro de Cenas da Vida Militar. 


Maria conhece o Gars e Sra. de Gua
A Bretanha em 1799 ou Les Chouans foi o primeiro livro assinado por Balzac. Segundo Paulo Rónai foi quando, pela primeira vez se manifestaram as características do escritor Balzacc como o cuidado em corrigir o livro e a superioridade com que tratou seu editor, Henri de Latouche. É um romance histórico à moda de Walter Scott, em voga na época com o acréscimo de uma intriga amorosa. 
A história diz respeito à denominada Chouannerie, uma revolta de camponeses ocorrida na região da Bretanha contra a Revolução Francesa. Eles usavam táticas de guerrilha e imitavam o grito da coruja (chouin no dialeto bretão). De acordo com a Enciclopédia Britânica, a motivação era menos a devoção à monarquia do que o ressentimento pela interferência da república com o modo de vida dos Chouans, como o fim do contrabando em função da abolição da gabela (imposto sobre o sal), medidas contra o clero e a conscrição obrigatória . 
Acompanhamos um grupo de conscritos bretões escoltados pelo comandante Hulot, conhecido nosso de A Prima Bete. Eles são atacados pelos Chouans. Um líder vendeano, um jovem nobre alcunhado de Gars, o Marquês de Montauran, vem do exterior para unir a Vendeia e a Bretanha. Para detê-lo, José Fouché (1759-1810), que já aparecera em Um Caso Tenebroso , através do nosso já conhecido Corentin (Um Caso Tenebroso, Esplendores e Misérias das Cortesãs) envia uma bela sedutora, Maria de Verneuil. O Gars e Maria se apaixonam no primeiro encontro. Um armadilha de Corentin, porém, faz com que Maria denuncie seu amado. Ela descobre a trama, mas é tarde demais. Eles se casam e morrem juntos na manhã seguinte. 
Como bem destaca Rónai, há muito da primeira fase de Balzac, a qual ele renegou, nesse romance. A história de amor é um tanto mirabolante, há fugas, esconderijos, tesouros. Os personagens são fracos e esquemáticos (segundo críticos, isso pode ser em função de alterações posteriores do romance para se encaixar na Comédia Humana). Mas há também muito de Balzac aí. A história não é real, mas o escritor pesquisou, de modo a nos dar incríveis descrições da paisagem da Bretanha, das casas e do modo de vida dos Chouans. A missa rezada pelo padre Gudin no bosque e o assassinato de Galopa Caneca pelos seus companheiros por uma suposta traição são momentos superiores da obra. 
Aliás, a traição perpassa toda a história. Azuis (republicanos) e Brancos (contrarrevolucionários) se acusam mutualmente de traidores, do rei, no primeiro caso, e da pátria, no segundo. E Maria e Montauran passam por várias possibilidades de traírem um ao outro. No final, acreditando que Montauran a trai com De Gua, Maria o trai, entregando-o aos Azuis. 
Eu confesso que esperava mais, muito em função da fama de A Bretanha em 1799. Minha leitura foi demorada, sem aquela pressa que tenho, aquele não conseguir largar o livro. Sinal de que estou mal acostumada com o meu historiador de costumes!
 


A imagem é de E. Toudouze — Honoré de Balzac, The Chouans. Philadelphia: George Barrie & Son, 1897

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