Um príncipe da boêmia (1839-1845)
Volume XI: Estudos de Costumes - Cenas da Vida Parisiense
A história se passa entre 1834 e 1837.
Paulo Rónai nos diz, na introdução de Um príncipe da boêmia, que a história é confusa e a leitura, árdua. Pois, discordo. Achei a leitura muito agradável. Se sabemos que se trata da história do romance do Conde de la Palférine com Claudina/Túlia contada por Nathan à Marquesa de Rochefide e escrita pela sra. de Baudraye, não há confusão (!).
Lembremos que a sra. de Baudraye é Diná Piédefer, a Musa do Departamento. Ela está em Paris vivendo com Estevão Lousteau em dificuldades financeiras. E pede a Nathan que lhe dê algum trabalho literário. O resultado é Um Príncipe da boêmia. E a amante de Nathan, Marquesa de Rochefide, é Beatriz.
Conhecemos a história de amor não correspondido de Claudina pelo nobre empobrecido Carlos Eduardo Rusticoli, De la Palférine. Famoso pelos chistes e por não pagar dívidas, Carlos Eduardo torna-se amante de Claudina. Ela é a mais dedicada das mulheres: faz todas as vontades do amante, aparece nos horários por ele determinados, escreve longas cartas de amor. Tudo o que ela houve do amado é "És uma boa rapariga". Então sabemos que Claudina é a dançarina Túlia, que se aposentou dos palcos em 1829 para tornar-se a senhora Du Bruel. Du Bruel é o nome verdadeiro do dramaturgo De Cursy. Depois de vários anos trabalhando com Túlia no teatro, a desposou. O casamento não foi anunciado. Túlia rompeu sua ligações mundanas e se reinventou como uma burguesa casada e respeitável. Então, Túlia/Claudina apaixonou-se pelo frívolo Carlos Eduardo De la Palférine. Cansado da amante, apesar dela se submeter a todos os seus caprichos, o rapaz colocou uma condição: "Deves ter uma carruagem, lacaios, uma libré". Pois a obstinada Claudina cumpriu as condições em três anos. No final, ela se apresenta a Carlos Eduardo com tudo o que ele demandou. O desenlace: o interesse da Marquesa de Rochefide pelo frívolo nobre.
Não é um grande texto literário, mas é uma leitura agradável.
Dois pontos interessantes. A obstinação de Claudina com o amor não correspondido que Paulo Rónai considera um estudo de psicologia. Persistir em algo tão penoso se transforma em uma verdadeira missão de vida. Podemos, inclusive, imaginar que, caso o rapaz cedesse e se mostrasse apaixonado, o interesse de Claudina declinaria.
Mais instigantes são os sinais trocados nas relações Carlos Eduardo/Claudina e Du Bruel/Claudina. No casamento, ela está no comando e submete o atordoado marido aos seus caprichos. Não somente isso. Ela manobra a carreira de Du Bruel, que se torna par de França e conde. Um homem que teria de contentado em permanecer como autor de vaudevilles de qualidade duvidosa e frequentador da boêmia parisiense. Ou seja, há aspectos psicológicos nessa novela que recomendam muito a sua leitura.
Referência da ilustração. Honoré de Balzac. A prince of Bohemia and other stories. Philadelphia: Gebbie Publishing Co. 1899.
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