No ano passado resolvi ler toda a Comédia Humana de Honoré de Balzac. Toda. Os dezessete volumes. Já estou no quinto. Postarei no blog o resumo e meus comentários para cada história.
Balzac é conhecido por um de seus piores romances, A Mulher de Trinta Anos. Mas foi um dos escritores mais fecundos de todos os tempos. São centenas de romances. E, com exceção dos trabalhos dos anos de juventude. de pouca qualidade, quase todos estão agrupados nesse monumento literário que é a Comédia Humana.
Em 1833, Balzac, já então um escritor prolífico, teve uma ideia brilhante que mudou a história da literatura ocidental: perpetrar o retorno das mesmas personagens em diversos romances. Segundo Paulo Rónai, no excelente ensaio que serve de introdução à Comédia Humana publicada pela Editora Globo, Balzac pretendeu eliminar a maior imperfeição inerente ao romance, a incapacidade de dar uma ilusão completa de realidade. "o romance, efetivamente, está rigidamente delimitado nos planos de uma construção que não se observa na vida. Mas os romances de Balzac não começam e não acabam; cada um traz sementes que vão germinar além do fim e por sua vez apresenta o desenvolvimento dos germes lançados em um ou mais romances anteriores". Assim, uma coadjuvante numa história aparece como personagem principal em outra. Alguém retratado na velhice aparece criança em outra história. As personagens envelhecem e seu problemas mudam. Questões não resolvidas se resolvem em outro romance. Além disso, personagens reais da França da Restauração participam também como personagens nas histórias. São mais de dois mil personagens, cada um com as suas características e histórias. E o mais espantoso é que, sem contar com computador, máquina de escrever ou sequer um secretário, Balzac tenha cometidos pouquíssimos erros.
Do ponto de vista histórico, A Comédia Humana é um retrato fiel e pormenorizado da França da Restauração. Friedrich Engels confessou que aprendeu mais sobre a sociedade francesa, inclusive pormenores econômicos, lendo Balzac do que em todos os livros de historiadores, economistas e estatísticos. E a descarnada "ascensão da burguesia" que vemos explicada nos textos dos historiadores marxistas, vive na nossa frente quando lemos a história de uma jovem dama de família aristocrática empobrecida que tem seu casamento arranjado com o filho de um grosseiro comerciante.
Em termos literários, há desde longos romances até pequenos contos. A qualidade não é homogêna. Há obras-primas como O Pai Goriot e As Ilusões Perdidas, pequenas pérolas como A Missa do Ateu e Uma Estréia na Vida e colchas de retalhos como o superestimado A Mulher de Trinta Anos e Outro Estudo de Mulher.
Nos posts seguintes vou falar um pouco de cada romance e, eventualmente, de aspectos da vida de Balzac.
A nous maintenant!
Balzac é conhecido por um de seus piores romances, A Mulher de Trinta Anos. Mas foi um dos escritores mais fecundos de todos os tempos. São centenas de romances. E, com exceção dos trabalhos dos anos de juventude. de pouca qualidade, quase todos estão agrupados nesse monumento literário que é a Comédia Humana.
Em 1833, Balzac, já então um escritor prolífico, teve uma ideia brilhante que mudou a história da literatura ocidental: perpetrar o retorno das mesmas personagens em diversos romances. Segundo Paulo Rónai, no excelente ensaio que serve de introdução à Comédia Humana publicada pela Editora Globo, Balzac pretendeu eliminar a maior imperfeição inerente ao romance, a incapacidade de dar uma ilusão completa de realidade. "o romance, efetivamente, está rigidamente delimitado nos planos de uma construção que não se observa na vida. Mas os romances de Balzac não começam e não acabam; cada um traz sementes que vão germinar além do fim e por sua vez apresenta o desenvolvimento dos germes lançados em um ou mais romances anteriores". Assim, uma coadjuvante numa história aparece como personagem principal em outra. Alguém retratado na velhice aparece criança em outra história. As personagens envelhecem e seu problemas mudam. Questões não resolvidas se resolvem em outro romance. Além disso, personagens reais da França da Restauração participam também como personagens nas histórias. São mais de dois mil personagens, cada um com as suas características e histórias. E o mais espantoso é que, sem contar com computador, máquina de escrever ou sequer um secretário, Balzac tenha cometidos pouquíssimos erros.
Do ponto de vista histórico, A Comédia Humana é um retrato fiel e pormenorizado da França da Restauração. Friedrich Engels confessou que aprendeu mais sobre a sociedade francesa, inclusive pormenores econômicos, lendo Balzac do que em todos os livros de historiadores, economistas e estatísticos. E a descarnada "ascensão da burguesia" que vemos explicada nos textos dos historiadores marxistas, vive na nossa frente quando lemos a história de uma jovem dama de família aristocrática empobrecida que tem seu casamento arranjado com o filho de um grosseiro comerciante.
Em termos literários, há desde longos romances até pequenos contos. A qualidade não é homogêna. Há obras-primas como O Pai Goriot e As Ilusões Perdidas, pequenas pérolas como A Missa do Ateu e Uma Estréia na Vida e colchas de retalhos como o superestimado A Mulher de Trinta Anos e Outro Estudo de Mulher.
Nos posts seguintes vou falar um pouco de cada romance e, eventualmente, de aspectos da vida de Balzac.
A nous maintenant!
É uma resolução difícil de cumprir... Eu comecei em 2000 e estou no quinto volume (não tenho lido na ordem, fui do IV para o VI, VIII, IX e agora estou no I). Mas é um experiência única, foi uma realização única na história da literatura.
ResponderExcluirGostei do seu blog.
Não é mesmo fácil. Ainda mais para mim que leio muito e faço muitas outras coisas. Estou terminando o sexto volume agora.
ResponderExcluirObrigada. Quando quiser comentar algo, eu muito apreciarei.