segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O que eu amava


Lido entre 25 de julho e 4 de agosto de 2010.
Eis um bom começo para esse blog. Até porque conheci a autora no blog Todoprosa de Sérgio Rodrigues. Há uma seção "começos inesquecíveis". O tom confessional com que Siri Hustvedt abre O que eu amava me deixou mesmerizada. Queria o livro para já. Assim que eu obtive, só o deixei quando concluí.
Narra a amizade começada na década de 1970 entre o professor de história da arte Leo Hertzberg e o artista plástico William Weschsler. Leo vê um quadro de William numa galeria do SoHo e resolve conhecer o artista, então desconhecido. A visita é o início de uma amizade que atravessará décadas. Leo é casado com Erica, professora universitária, e William-Bill, com a poetisa Lucille. Eles se mudam para o mesmo prédio e as mulheres engravidam na mesma época. Com diferença de meses, nascem Matthew Hertzberg e Mark Weschsler. Bill deixa Lucille para ficar com Violet, a modelo do quadro que encantou Leo. Violet é uma antropóloga que estuda a histeria e distúrbios alimentares. Quando os meninos estão com 11 anos, Matthew morre em um acidente. Erica vai dar aula na Califórnia, por não conseguir suportar Nova Iorque sem o filho. Bill e Violet ajudam Leo, enquanto Mark cresce. Mark começa apresentar sinais de patologia social mentindo compulsivamente, mudando de personalidade de acordo com o grupo de pessoas com quem está, usando drogas. Acaba se aproximando de um polêmico artista chamado Teddy Giles. Um jovem de biografia obscura que faz instalações chocantes, com sangue, pedaços de corpos expostos, etc. Mark acaba se envolvendo num suposto assassinato cometido por Giles, que seria mais de uma suas "obras de arte". Bill morre do coração de forma súbita. Violet vai morar em Paris.
Narrado em primeira pessoa por Leo, é uma obra difícil de resumir. Além da história principal, há muitas referências à história da arte e aos trabalhos de Bill que, em alguns trechos, são minuciosamente descritos. Igualmente há as discussões sobre pesquisas de Violet (retiradas do trabalho da irmã de Siri Hustvedt) que também interferem nos trabalhos de Bill. E há o passado judaico de Bill e Leo que interferem em toda a história.
Qual é a pergunta que pessoas que não lêem muito fazem quando vêem alguém lendo um livro? Sobre o que ele é? É um livro sobre perdas. Sobre perdas maiores, como a de um filho, e perdas menores, como as impostas pelo envelhecimento. Leo está perdendo a visão quando escreve. Mas não é um livro sombrio. É um livro que retrata as perdas como inerentes à condição humana. A descrição dos efeitos da morte de Matthew sobre Bill e Erica é de um realismo assustador. A perda inimaginável retratada nos seus aspectos mais prosaicos. A dor seca sem nenhuma condescendência. A perda de Mark para Leo também é descrita com maestria. Em algum momento, Leo diz que não há gradação na esperança, de modo que cada vez que Mark pede desculpas por roubar, mentir, fugir, ele acredita, esperando ter de volta a criança que viu crescer ao lado do filho morto. E fica acreditando.
No final, um Leo já idoso e quase cego, ouve os barulhos das crianças no apartamento acima do seu, que fora de Bill e Violet. E aguarda o amigo Lazlo que lerá para ele.

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