
Volume I: Estudos de Costumes – Cenas da Vida Privada (lido entre 16 de setembro e 5 de outubro de 2009)
Personagens: Senhor e senhora Guillaume (née Chevrel), Virgínia, Augustina, José Lebas, Teodoro de Sommervieux, senhor Roguin (notário) e esposa (prima da senhora Guillaume), Raubordin, César Birotteau (perfumista) e esposa, senhor Camusot (comerciante de sedas) e senhor Cardot (sogro de Camusot), duquesa de Carigliano, general d´Aiglemont.
A história inicia em 1810 e termina em 1813.
Ao "Chat-qui-pelote" tem um começo típico de Balzac: a minuciosa descrição de uma casa de comércio de tecidos localizada na Rua São Diniz e denominada "Chat-qui-pelote". Lá trabalhava e morava a família Guillaume. O senhor Guillaume, que sucedeu a seu sogro, senhor Chevrel, sua esposa e as duas filhas, Virgínia e Augustina. Virgínia, um retrato da sisuda e trabalhadora mãe. Augustina, uma sonhadora e linda rapariga que lia, às escondidas, romances que seus pais não aprovariam. Havia também três caixeiros, dos quais o primeiro, o órfão e sem fortuna João Lebas, nutria uma paixão por Augustina, embora o patrão planejasse casá-lo com Virgínia.
Mas nossa história começa com um ser estranho a esse ambiente observando a loja: Teodoro de Sommervieux, jovem pintor já famoso, que se apaixona, à primeira vista, por Augustina. Inspirado pelo amor, Sommervieux pinta duas telas: uma imagen do interior do "Chat-qui-pelote" e uma retrato de Augustina. As obras, expostas, causaram sensação no famoso Salão de Paris. Augustina, ao ir à exposição com a senhora Roguin, conheceu o pintor apaixonado e o casal iniciou um namoro secreto. Com a intermediação da senhora Roguin, após alguma resistência da família, é combinado o casamento de Augustina e Sommervieux. Lebas, que já havia pedido a mão da moça, contenta-se com Virgínia. Ocorre que em Balzac não existe "felizes para sempre". A partir do casamento, Balzac começa a trabalhar um tema que lhe é caro: a incompatibilidade social. Augustina era uma pequeno burguesa, criada para viver como a mãe, entre agulhas e tecidos. Sommervieux era um boêmio que circulava nos elegantes salões parisienses, dado aos prazeres da vida e do espírito. "Ela marchava terra a terra na vida real, ao passo que ele tinha a cabeça nas nuvens". Após três anos de casamento, Augustina e Sommervieux eram estranhos que mal se toleravam. Augustina, desesperada em salvar seu casamento, procura a duquesa de Carigliano, suposta amante de Sommervieux. Ela lhe dá lições pragmáticas e cínicas a respeito do amor: "Nós mulheres devemos admirar os homens de gênio, gozá-los como um espetáculo, mas viver com eles, nunca!". Finalmente, mostra a Augustina e lhe restitui seu famoso retrato, que recebera de Sommervieux na tentativa de cortejá-la. Ao ver o quadro com Augustina, Sommervieux se descontrola e o destrói. Ao final, somos informados de que Augustina morreu aos 27 anos.
Nessa narrativa curta, de cerca de 45 páginas, conhecemos muito da literatura de Balzac. A técnica de apresentar um cenário, descrevendo-o minuciosamente para que ao final o leitor conheça perfeitamente o aporte cultural dos personagens que circularão nele, é repetida em muitos romances. Ao fim da descrição, estamos familiarizados com a mentalidade pequeno burguesa de Augustina.
Quanto aos temas, há dois que também aparecem reiteradamente e que nessa história estão entrelaçados. Um é a já mencionada incompatibilidade social. Quando Augustina, em crise com Sommervieux, procura sua família encontra Virgínia vivendo em harmonia com João Lebas, ocupando o lugar que era de sua mãe. Virgínia não conheceu os arroubos da paixão, mas garantiu uma existência segura. Outro tema é a difícil convivência com os artistas. Sommervieux, assim como Balzac, era um artista. O gênio exige de quem o acompanha muitos sacrifícios. É possível que o próprio Balzac tenha tido experiências de incompatibilidade com as mulheres em razão das noites em claro, das dívidas, dos planos mirabolantes.
Ainda uma curiosidade. Balzac, para dar maior verossimilhança aos romances da Comédia Humana inseria personagens reais nas obras. Nesta, é Anne-Loius Girondet (1767-1844), famoso pintor da época, que aparece conversando com Sommervieux.
Olá Cíntia,
ResponderExcluirAo "Chat-Qui-Pelote" é realmente incrível. A impressão que tive ao ler a história é de que ela fica mais fácil e mais difícil de largar à medida que avança. Como vemos na introdução de "O Baile de Sceaux", Balzac tinha esse costume de começar a história lentamente como um romance e terminar de maneira apressada.
Apesar de curta a história é muito cheia de detalhes e muito interessante de ser lida.
Sobre a incompatibilidade social presente na obra e que você cita no texto, é interessante notar que em dado momento a jovem Augustina tenta se encaixar, começa a ler livros e tentar a falar sobre arte mas não consegue, como se de fato não houvesse espaço para ela naquela camada social, independentemente do que ela tentasse fazer para se adaptar.
Achei uma ótima introdução a Balzac.
Obrigada, Leandro. Que vergonha demorar tanto para te responder! Mas o comentários não estavam sendo enviados para mim.
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