quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A Bolsa (maio de 1832)

Personagens: Hipólito Schinner, Adelaide de Leisegneur, Baronesa de Rouville, cavaleiro Du Halga, conde de Kergaroüet, Francisco Souchet.

A história se passa no reinado de Luís XVIII, ou seja, entre 1815 e 1824.

A Bolsa é um conto mal acabado de Balzac. Longas descrições, uma situação de suspense e um final feliz muito forçado.

O jovem e promissor pintor de quadros Hipólito Schinner instala seu ateliê no último andar de um velho prédio. Distraído, caí de uma escada e desmaia. Ao acordar, está na presença de suas vizinhas que, ao ouvir o barulho da queda, o socorrem. Trata-se de uma bela jovem, Adelaide de Leisegneur, e de sua mãe, a baronesa de Rouville. No dia seguinte, Schinner vai ao apartamento das vizinhas agradecer pela ajuda. Eis o ponto alto do livro, a descrição do apartamento: "Para um observador, havia um não sei quê de desolador no espetáculo daquela miséria, que se assemelhava a maquilagem duma mulher velha que ainda quer se dar ares de moça". É a descrição que lança a ambiguidade sobre a vida de Adelaide e de sua mãe: eram elas simples mulheres que viviam em uma pobreza decente após um passado de riquezas? Ou eram mulheres de caráter duvidoso? Balzac aponta o tempo todo para a segunda hipótese. O nome da filha diferente do da mãe. Os cavalheiros idosos, Du Halga e conde de Kergaroüet, que frequentavam o apartamento, e as liberdades que tomavam com Adelaide que para Hipólito ora pareciam as de um pai, ora não. A avidez da baronesa pelo jogo. E, finalmente, o desaparecimento da bolsa de Hipólito com quantia considerável de dinheiro. O desfecho é decepcionante. Após alguns dias de dúvidas e sofrimento, Schinner descobre que Adelaide subtraíra sua bolsa para substituí-la por outra feita por ela. E o pintor é informado de que o conde de Kergaroüet, apiedado da difícil situação financeira da baronesa, perdia voluntariamente no jogo para ajudá-la, já que ela se recusava a aceitar dinheiro.

Balzac poderia ter deixado alguma ambiguidade no conto. Paulo Rónai chama a atenção, na introdução, para o alinhavo da história do jogo. O autor lança tantas sombras sobre o caráter da heroína, que o desenlace é totalmente insatisfatório. No início da história ele diz: "Nenhum pintor de costumes se animou, talvez por pudor, a nos iniciar na intimidade de certas existências parisienses, no segredo dessas moradias de onde saem tão frescas, tão elegantes toilletes, mulheres tão brilhantes que, exteriormente ricas, deixam em tudo os sinais de uma fortuna equívoca". Eis uma tema que Balzac trabalharia com maestria. Mas em A Bolsa ficamos só com a expectativa.

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