Personagens: Luísa de Chaulieu, Renata de Maucombe, Miss Griffith (governanta de Luísa), Filipe (criado de Luísa), duque e duquesa de Chaulieu, senhor de l´Estorade, Luís de l´Estorade, Barão de Macumer (Felipe Henarez), senhor de Canalis, duque de Rethore (Afonso, irmão de Luísa), dançarina Túlia, Duque de Sória, Maria Herédia, duquesa de Mafrigneuse, Henrique de Marsay, Maria-Gastão, Daniel D´Arthez, José Bridau.
A história inicia-se em 1822 e termina em 1839
Em Memórias de Duas Jovens Esposas, Balzac utiliza a forma espistolar para narrar a evolução da amizade de Luísa de Chaulieu e e Renata de Maucombe depois que elas saem do convento. Após uma adolescência de sonhos compartilhados, cada amiga seguirá seu caminho. E Balzac usa esses caminhos, totalmente distintos, para trabalhar um tema que já havia aparecido em Ao "Chat-qui-pelote": o casamento por amor versus o casamento de conveniência, com o segundo levando a melhor.
Renata sai do convento diretamente para o casamento com Luís de l´Estorade, um ex-prisioneiro das guerras napoleônicas, precocemente envelhecido e muito circunspecto. Luísa vai brilhar na sociedade de Paris. Lá conhece Felipe Henarez, professor de espanhol, por quem sei apaixona. Após um namoro cavalheiresco, quase medieval, ela descobre que Felipe é uma exilado político e Barão de Macumer. Se casam em estado de profunda paixão. Enquanto isso, Renata tem três filhos com Luís: Armando, Atenais e Renato. Luís torna-se nobre e, com a ajuda de Renata, obtém bons cargos no governo. Luísa não engravida e, após alguns anos de felicidade, Macumer morre. Cinco anos depois, Luísa, viúva, casa-se com o jovem e pobre poeta Maria-Gastão. Para proteger seu amor excessivo e ciumento, isola-se com Gastão em um chalé fora de Paris. Depois de um tempo, desconfia da fidelidade do marido que surpreende com uma mulher em Paris. Antes de saber por Renata que a mulher era a cunhada viúva que Gastão ajudava em segredo, Luísa, desesperada, provoca uma tuberculose e morre.
Há aqui dois contrastes: a vida escolhida por Renata e a vida escolhida por Luísa, e o primeiro e o segundo casamento de Luísa. Assim como Virgínia foi melhor sucedida que Augustina em Ao"Chat-qui-pelote", Renata, que parece vítima no início da história, termina feliz, mãe de três lindas crianças e ao lado de um homem de quem se orgulha. Luísa, após um romance de livro, com um homem belo e rico, termina, como sugere Balzac, "causando" a morte do marido pelo enfado produzido pelo amor. Em uma carta, escreve-lhe Renata: "(...) tu não o amas. Antes de dois anos te cansarás dessa adoração. Nunca verás em Felipe um marido, e sim um amante, do qual sem a menor preocupação farás teu brinquedo (...). Não, ele não se impõe a ti, não lhe tens esse profundo respeito, esta ternura cheia de temor, que uma verdadeira amante dedica àquele que vê como um Deus". É, nas palavras de Paulo Rónai, um amor inspirado. E Balzac, ao acrescentar o segundo casamento de Luísa, o contrasta com o amor sentido. Luísa ama Maria-Gastão muito mais do que ele a ama. Ela está aqui no lugar de Felipe de Macumer. Mas o romance é igualmente mal sucedido. É a tese muito repetida por Balzac de que o casamento exclui o amor e a paixão destrói o casamento.
Outro ponto interessante de Memórias de Duas Jovens Esposas são as descrições minuciosas das situações relacionadas à maternidade: o parto, a amamentação, as doenças dos filhos. Aqui Balzac utilizou sua vasta correspondência e longas estadas em casa de Zulma Carraud, que foi uma espécie de modelo de Renata. É impressionante que um homem do século XIX, que não teve filhos (ao que tudo indica, teve uma filha, mas não acompanhou seu crescimento), soubesse de tudo aquilo! Balzac, definitivamente, entendia de mulheres.
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