quinta-feira, 30 de junho de 2011

A Missa do Ateu (janeiro de 1836)

Personagens: Horácio Bianchon, Desplein, Bourgeat.

A história se passa entre 1823 e 1830.

São quinze encantadoras páginas. Aqui Balzac mostra, como em A Mensagem, seu talento para narrativas curtas. E que talento!
Temos três personagens. Horácio Bianchon é uma das figuras mais interessantes da Comédia Humana. Ele não é protagonista de nenhuma história, mas também não chega a ser um coadjuvante. Como médico, ele entra em várias casas, testemunha diversas cenas, assiste variadas tramas. O famoso cirurgião Desplein, já falecido quando a história é contada, teve um modelo real e de todos conhecido: o cirurgião da família real Guillaume Dupuytren. A Missa do Ateu foi publicada em 1836, uma ano após a morte de Dupuytren, de modo que o público reconhecia nos traços do personagem seu molde. E, por fim, Bourgeat, o carregador de água, benfeitor de Desplein, cuja as ações o cirurgião relata ao seu antigo pupilo.
Certa vez, Bianchon surpreendeu seu professor Desplein, ateu confesso e crítico mordaz da religião católica entrando em uma igreja para assistir a uma missa. O jovem médico, intrigado e curioso, resolveu investigar e descobriu que Desplein assistia à missa naquela Igreja quatro vezes por ano.
Algum tempo depois, em um momento oportuno, Bianchon questionou seu mestre. Desplein contou, então, sua chegada a Paris e a pobreza absoluta e terrível em que viveu quando iniciou seus estudos de medicina. Desesperado, sem dinheiro para pagar o aluguel, os exames e a comida, Desplein foi auxiliado por seu vizinho Bourgeat, um carregador de água. O homem permitiu que Desplein morasse com ele, emprestou dinheiro para os exames e para que ele pudesse se manter na faculdade. Bourgeat viveu pouco para ver o sucesso de seu protegido. Desplein cuidou dele durante sua enfermidade. Após a morte de Bourgeat, Desplein julgou acertado, já que seu protetor era muito devoto, constituir um legado para que fossem rezadas quatro missas por ano em sua memória na igreja do Santo Suplício. E o cirurgião comparecia às missas, rezando, apesar de sua ausência de fé, pela alma de Bourgeat.
O interessante é que a história é contada, sem fazer o narrador nenhum juízo. E, ao final de quinze páginas, “um mundo de ideias tem-se agitado em nós” como disse acertadamente o crítico Paul Bourget.

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